quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Brasil : Línguas Esquecidas

O Brasil é uma das maiores nações multilíngues do mundo , entretanto, o terceiro com maior número de línguas ameaçadas de extinção. Das 180 línguas catalogadas pelo Atlas e referendadas pela Funai , 45 estão em situação crítica e o restante em perigo ou vulneráveis.


Ao certo não se pode precisar o número de línguas faladas no território nacional; pelo Censo do IBGE de 2010 teríamos 274 línguas divididas entre as 305 etnias indígenas existentes , já o relatório do Museu Goeldi aponta para 154 .O que não deixa dúvidas é que um quarto conta com menos de cem falantes , algumas já morreram e outras tantas estão em processo rápido de extinção.

Angel Corbera Moli , etimologista e professor de Línguas Indígenas na Unicamp , e de acordo com estudos da UnB , enfatiza que praticamente todas as línguas faladas ,desde o período colonial ,nas atuais regiões do Nordeste, Sudeste e Sul do Brasil desapareceram . Quando da chegada dos portugueses no Brasil existiam mais de 1000 línguas indígenas, hoje 15% apenas conseguiram sobreviver a aculturação.

Índios no Brasil: 200 povos , 180 línguas

Quase 50% dos índios vivem fora de suas reservas de origem e destes , somente 12% falam seu idioma materno. O Tikuna , do Alto Amazonas , é o idioma indígena com mais falantes no Brasil ( em torno de 3.000) e que ainda , por sorte, consegue preservar sua cultura  . O que mais corrobora com a estatística da extinção das línguas de origem é que menos de 40% dos que se declaram indígenas fala a língua de sua etnia .  E ao contrário do que se pensa, apenas 17% desconhece a língua portuguesa.Talvez porque mais de 35% dos indígenas vivem em cidades e os programas de inclusão social não fornecem as condições efetivas para o exercício PLENO dos seus direitos.

Apesar disso, nos últimos anos , temos visto um processo gradual de valorização e incentivo ao bilinguismo. Aumentar o interesse dos mais jovens na revitalização das línguas indígenas de herança, transformar em orgulho a riqueza multilíngue e pluricultural através do ensino ( básico ao superior) ,proteção das línguas e culturas originárias é um caminho que começa a ser trilhado como política governamental e cidadania.
Como exemplo , deveríamos aprender com Papúa Nova Guiné, um país sem muito poder aquisitivo mas com uma vontade enorme de preservar suas 823 línguas restantes. Com uma política de governo forte exigiu a inclusão do aprendizado da língua vernácula nos primeiros anos de educação infantil com uma transição gradual para o idioma de instrução , reformando a política de exclusividade do inglês da década de 1950.

Mostrar para a sociedade que , com o desparecimento das línguas indígenas, o país perde diversidade, história ,identidade, memória cultural e patrimônio intelectual vasto e complexo.

TODAS AS LÍNGUAS SÃO PRECIOSAS .
QUANDO PERDEMOS UMA LÍNGUA PERDEMOS UMA VISÃO DE MUNDO , UMA IDENTIDADE ÚNICA E UM DEPÓSITO DE CONHECIMENTO.
MAIS QUE ISSO, PERDEMOS DIVERSIDADE E DIREITOS HUMANOS. NA ERA DA INFORMAÇÃO E APREGOAÇÃO DE DIREITOS NADA MAIS JUSTO QUE UMA DIVERSIDADE ENTRE IGUAIS.
UM ANCIÃO NAVAJO DISSE:

SE VOCÊ NÃO ABRE SEUS OLHOS,
NÃO HÁ CÉU.
SE NÃO ESCUTA,
NÃO HÁ ANCESTRAIS.
SE NÃO RESPIRA,
NÃO HÁ AR.
SE NÃO CAMINHA,
NÃO HÁ TERRA.
SE NÃO FALA,
NÃO HÁ MUNDO.
(Yamamoto – Sabedoria Tribal e o Mundo Moderno)

O povo brasileiro através da cultura indígena na visão de Darcy Ribeiro : seus hábitos , sua língua, sua forma de ver o mundo.