quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Carnaval : uma história antiga

O carnaval tem sido atribuído à evolução e à sobrevivência do culto de Ísis no Egito, dos festejos em honra de Dionísio, na Grécia, e até mesmo às festas dos "inocentes" e "doidos", na Idade Média, dando origem aos carnavais dos tempos modernos.
                              Isis_(2)                                    Dionysos_Louvre_Ma87                          carnaval_bafcop
 
Para a maioria dos pesquisadores, é provável que o Carnaval tenha se originado no Império Romano, ainda antes do nascimento de Cristo. Nessa época, celebravam-se as Saturnálias, festas em homenagem ao deus do tempo, Saturno. Elas aconteciam nos meses de novembro e dezembro, e todos os segmentos da sociedade participavam. As escolas ficavam fechadas, os escravos eram soltos e as pessoas saíam às ruas para dançar. Carros (chamados de “carrum navalis” por serem semelhantes aos navios) levavam homens e mulheres nus em desfile. Dos membros da nobreza aos escravos, todos se misturavam nas ruas para as comemorações, que incluíam muita comida, bebida, música e dança, nada muito diferente do que ocorre hoje.
 
 
                                                                             saturnalias            
É importante ressaltar que antes das Saturnálias (Romanas), no Egito, no período da estação do outono realizava-se a festa do boi Apis (animal sagrado). Escolhia-se o boi mais belo e todo branco o qual era pintado com várias cores, hieróglifos e sinais cabalísticos (branco = pureza, então, pintar o boi significa torná-lo impuro). O boi era conduzido pelas ruas e levado até o rio Nilo, onde era afogado. Em procissão, sacerdotes, magistrados, homens, mulheres e crianças, fantasiados grotescamente, iam atrás dele (o boi) dançando, cantando em promiscuidade até seu afogamento.
                                                                                    Moreau,_Europa_and_the_Bull
Frise-se que na mitologia Grega, Júpiter se fez passar por um boi belo e branco como a neve, seduziu a princesa Europa , que adornada com flores subiu sobre seu dorso e Júpiter a conduziu para o mar até uma praia deserta onde a possuiu.
                                                                          
No entanto, as Saturnálias iniciava-se com César e eram protegidas por Baco, o deus do vinho (daí o termo Bacanal). Nos dias de folia, tudo se invertia e ao participar dessa inversão, as pessoas representavam papéis, e fingiam ser o que não eram. Tanto que o rei da festa, o Rei Momo, era um escravo (da classe mais baixa de Roma) e podia ordenar o que quisesse durante as festividades. Durante seu reinado, era praticado, sobre o seu comando, todo tipo de orgia, bebedeira e lascívia. No término das festividades, ou seja, no final do quarto dia, o rei Momo era sacrificado de forma brutal no altar de Saturno.
 
Outros especialistas afirmam que o nome da festa vem da expressão latina “carnem levare“, que quer dizer “adeus à carne”, já que representava os últimos dias antes da Quaresma, período em que o consumo de carne é proibido aos cristãos.
Nos primeiros séculos a Igreja Católica não tinha expressão dentro do mundo greco-romano. Somente no século 4, o imperador Constantino publica o Edito de Milão (313 D.C.), que torna o catolicismo a religião oficial do Império e proíbe a perseguição de cristãos. A partir do século 4, a Igreja cria uma estrutura mais forte e elabora um cronograma oficial para as festas litúrgicas – Natal, Quaresma e Páscoa – dentro do calendário Juliano.
Como a Igreja pautava-se nos padrões éticos e morais, não permitia uma série de excessos na Quaresma, como a realização de bacanais e saturnálias. A Igreja Católica se opunha a esses festejos pagãos, mas, em 590, decidiu reconhecê-los. Exigiu, porém, que o dia seguinte (Quarta-Feira de Cinzas) fosse dedicado à expiação dos pecados e ao arrependimento.Então, as pessoas passaram a aproveitar o último dia antes do início da Quaresma para fazerem tudo a que “tinham direito”. O carnaval é realizado justamente neste período e remonta às características das festas pagãs. A Quarta-feira de Cinzas marca o início da Quaresma (40 dias de abandono dos prazeres), e tem esse nome porque havia o costume de se marcar a testa dos fieis com as cinzas de uma fogueira em sinal de penitência.
Assim estas festividades pagãs foram movidas para antes do início desse período - a mesma data atual - e ganharam o nome de “carnem levare”, que em latim significa "adeus à carne", ou seja, uma despedida dos chamados prazeres carnais, dos tais excessos que caracterizavam as Saturnálias e eram, como ainda são, reprovadas pela Igreja.
O Carnaval foi aos poucos mudando de cara. Na Idade Média, incluía sátiras aos poderosos, predominavam nos festejos de Carnaval os jogos e disfarces. Os foliões se protegiam de possíveis retaliações com a desculpa de que a festa os deixava loucos (“folia”, em francês, significa loucura).
 
Já em Roma havia corridas de cavalos, desfiles de carros alegóricos e divertimentos inocentes como a briga de confetes pelas ruas. O baile de máscaras foi introduzido pelo Papa Paulo II, no século XV, mas ganhou força e tradição no século seguinte, por causa do sucesso da Commedia dell'Arte. As mais famosas máscaras são as confeccionadas em Veneza e Florença, muito utilizadas pelas damas da nobreza no século XVIII como símbolo máximo da sedução.
                              veneza
Datam dessa época três grandes personagens do Carnaval. A Colombina, o Pierrô e o Arlequim tem origem na Comédia Italiana, companhia de atores que se instalou na França pra difundir a Commedia dell'Arte. O Pierrô é uma figura ingênua, sentimental e romântica. É apaixonado pela Colombina, que era uma caricatura das antigas criadas de quarto, sedutoras e volúveis. Mas ela é a amante de Arlequim, rival do Pierrô, que representa o palhaço farsante e cômico.
 
 
entrudoNa Europa um dos principais rituais de Carnaval foi o Entrudo. A palavra vem do latim e significa início, começo, a abertura da Quaresma. Existe desde 590 D.C., quando o carnaval cristão foi oficializado. O povo comemorava comendo e bebendo para compensar o jejum. Mas, aos poucos, o ritual foi se tornando bruto e grosseiro e o máximo de sua violência e falta de respeito aconteceu em Portugal, nos séculos XVII e XVIII. Homens e mulheres atiravam água suja e ovos das janelas dos velhos sobrados e balcões. Nas ruas havia guerra de laranjas podres e restos de comida e se cometia todo tipo de abusos e atrocidades.






quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Um pé de quê : O que a moda tem a ver com o pau-brasil ?

O que a moda tem a ver com o pau-brasil ? A partir de quando o vermelho virou moda para a maioria dos "mortais" ? 

Imagina que você é uma perua do século XVI, no Reino de D.Manoel. Passou anos olhando os reis e os bispos desfilando de roupa vermelha na sua frente e nunca pôde usar a cor porque era exclusividade deles. Um dia , descobrem uma tinta muito mais barata e lançam no mercado um tecido igual ao vermelho dos reis. Você não ia querer? Claro , todo mundo queria. Foi o que aconteceu na Europa no século XVI.
O famoso "rouge" das maquiagens usadas pelas mulheres europeias era feito com o pigmento da madeira pau-brasil.

O vermelho ou o carmesim sempre trouxe ao mundo da moda um aspecto real , especial, algo diferenciado, talvez por ser uma cor anteriormente utilizada , somente, por reis e papas. O vermelho é moda até hoje, e inspirados nesta onda monástica Dolce & Gabbana lançaram na Semana de Moda em Milão, uma coleção inverno 2014 com forte apelo religioso da sua Sicília natal ( Catedral de Monreale ) , sendo o vermelho o grande carro-chefe.


                                                                Foto: Style.com


desfile dolce gabbana 2014

O que isso tem a ver com um texto sobre árvore?
Pois foi justamente uma árvore que instituiu a moda vermelha na Europa no século XVI : o pau-brasil


'Um pé de quê?' , projeto fantástico realizado pela TV Futura com a Pindorama Filmes mostra a riqueza da fauna brasileira e como ela faz parte do nosso dia a dia.

Começaremos pela primeira fonte de riqueza brasileira explorada ( muito , aliás!) pelos portugueses quando da sua chegada ao nosso território monumental, o famoso "pau-brasil".

A brasilina ou corante vermelho natural foi o primeiro produto destas terras e por causa desta árvore, o apelido Brasil pegou e a profissão brasileiro virou nossa nacionalidade.E o apelido anterior de Terra de Vera Cruz ( isso já é outra história!) já tinha sido substituído por Brasil definitivamente.
Nos primeiros 30 anos depois do descobrimento, o Brasil viveu exclusivamente de exploração do pau-brasil ( o Brasil não, Portugal , né?!). Até esse momento, a árvore foi a única coisa de valor que os portugueses encontraram aqui (menos mal...). O pigmento vermelho que tiravam dela estava virando um dos produtos mais procurados e populares da época.


Mas o pau-brasil não servia só para fazer tinta. É com sua madeira , muito dura e pesada, que eram fabricados os arcos para os violinos mais importantes das orquestras mais sofisticadas do mundo. Assim o pau-brasil ia se tornando cada vez mais valioso pois era exigida ( e ainda é ) a parte mais flexível, sem nó, reduzindo a 15% do tamanho da tora. 

Estima-se que para confeccionar um arco apenas, é necessário 1kg de madeira e quase 80% da toras de madeiras exploradas para esta finalidade são desperdiçadas. Menos mal que atualmente , organizações internacionais de preservação do meio ambiente juntamente com fazendeiros brasileiros e, através do 'Programa Pau- brasil' ,cultivam mudas com consciência da preservação para esta demanda de fabricação de violinos entre outros.

No século XIX inventaram a anilina,um novo produto, totalmente químico, de onde se podia tirar o mesmo vermelho do pau-brasil. Com esta maravilhosa e nova tecnologia, usar roupa tingida com pau-brasil já tinha virado coisa de selvagem ( selvagens que antenados já usavam o vermelho-brasil antes dele virar moda pela Europa).


A anilina decretou o fim da exploração da árvore mas já era tarde demais , pois as nossas matas, antes abundantes de pau-brasil em toda a sua extensão litorânea ( Ceará ao Rio de Janeiro), já estavam praticamente inexistentes. Até o fim do século XIX , os europeus derrubaram mais de dois milhões de árvores, 20 mil por ano, 50 por dia. Há quem diga que foram mais de 70 milhões de árvores de pau-brasil.

Em 1961 , o presidente 'vassourinha' Jânio Quadros decretou oficialmente o pau-brasil como árvore símbolo do País e o dia 3 de maio como Dia Nacional Do Pau-brasil.




Em junho de 2007 , foi aprovada a regulamentação do comércio desta árvore na Convenção sobre o Cites. Desde 1992 seu corte é limitado , mas agora há restrições no comércio internacional e necessidade de certificação.



Pau-brasil : árvore símbolo do país mesmo que você nunca tenha visto uma.


Você, por exemplo, já teve a oportunidade de conhecer um pé de pau-brasil pessoalmente?

Se gostou ...assista o vídeo da Pindorama Filmes by Regina Casé! Ou acesse Site um pé de quê


13 - Pau-Brasil from Pindorama Filmes on Vimeo.

Na próxima parada: um pé de cana!

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014