segunda-feira, 31 de março de 2014

A outra face de Salvador

O que Tomé de Souza, Caramuru e degredados têm a ver com Salvador?

O primeiro era filho bastardo que virou fidalgo. Enviado ao Brasil em 1548 com instruções claras: centralizar o poder depois do fracasso das capitanias hereditárias, construir uma fortaleza que viria ser a vila de Salvador, punir e prender índios hostis.
Trouxe consigo os primeiros jesuítas, as primeiras cabeças de gado, as primeiras mulheres “ de boa qualidade” além de mostrar aos franceses quem tinha a propriedade destas terras brasileiras.

Caramuru ou Diogo Álavares Correia, também chamado pelos nativos de ‘moréia’ porque foi achado entre as pedras ;ou ‘Homem do Trovão’ porque teria disparado um mosquete quando encontrado. Chegando aqui nos idos de 1509 , náufrago aos 17 anos de idade. Não se sabe ao certo as datas mas falava tupi fluente e adpatou-se muito bem aos índios nativos, tanto que se casou com Paraguaçu , filha de um chefe tupinambá.
Foi o responsável  indireto pela fundação de Salvador quando ajudou ao donatário Francisco Pereira e ao governador – geral Tomé de Souza.
 caramuru

Caramuru : A invenção do Brasil


Os degredados eram deixados propositalmente , para que explorassem e aprendessem a língua e os costumes dos nativos, algo já comum em costas africanas.Tudo em troca de recompensas pelas informações e absolvições pelas suas penas.
Poderia se dizer que não eram os melhores exemplares para formar uma colônia de ‘respeito’ e mesmo ganhando o ordenado de 400 mil réis, Tomé de Souza desiludido com o comportamento dos degredados , preferiu abandonar a colônia. Afirmava que fundar uma nação com degredados e desertores equivalia a “jogar na terra a má semente”.
A verdade é que de 29 de março de 1549 , quando a esquadra chegara à Bahia , a primeira capital do Brasil se erguia ( a partir de 1° de maio ) numa colina à beira-mar; e em meados de dezembro em frente  à Bahia de Todos os Santos se concretizou a vila de Salvador.

Salvador : mitos e lendas por History Channel





Pelourinho & Filhos de Gandhi
                                                   
Elevador Lacerda / Plano Inclinado Gonçalves

Natal 2001 no Pelourinho

Moradores Do Pelourinho

quarta-feira, 19 de março de 2014

FALLAS DE VALENCIA: UMA FESTA EM CHAMAS

Poderia se dizer que a Espanha é um país de festas. Cada estação do ano tem suas festas importantes e os motivos são os mais variados.
Em Valência ,na segunda quinzena de março , acontece uma revolução na cidade, que passa de tranquila a fervilhante ( literalmente!).
Estamos falando das “FALLAS DE VALENCIA” , uma festa popular , divertida ( para quem gosta de fogos…) e diferente.

                                                                                           FALLAS 2014

Fallas , querem dizer chamas , em valenciano. No catalão medieval, o termo falla servia para denominar os fachos que se colocavam no alto das torres de vigilância. Deriva do latim facula. No Llibre dels Fets (a primeira das quatro grandes crónicas de Jaime I), cita-se que as tropas do rei Jaime levavam falles para alumiar.
E a origem da festa , ainda que um pouco obscura, é muito simples: queima de restos das oficinas de carpintaria.
Há também quem diga que é uma evolução de rituais pagãos para celebrar o início da primavera no Hemisfério Norte e a temporada de colheita.

En el siglo XVI, Valencia usaba luces urbanas sólo en las largas noches invernales. Las lámparas de las calles colgaban de estructuras de madera, llamadas parots, y como los días se hacían más largos los ya no necesitados parots eran ceremoniosamente quemados el día de San José.
Lo que empezó como un día de fiesta dedicado a San José, patrón de los carpinteros, se ha transformado en cinco días festivos, una celebración multifacética que incluye el fuego. Valencia, una ciudad tranquila con una población de más o menos un millón de habitantes, crece hasta los tres millones de amantes del fuego durante Las Fallas. ( extraído do site www.donquijote.org )
 
A tradição de queimar os ‘parots’ foi evoluindo , acrescentando à eles caracterização de roupas e fisionomias conhecidas de pessoas do bairro. Daí o conteúdo satírico e burlesco ( burla en español, quer dizer deboche) de personagens famosos e políticos corruptos dos dias atuais. É uma forma de brincadeira ‘carnavalesca’ com certo tom politizado. ( poderíamos copiar, não?!)
                fallas-rajoy                      falla de valencia 2         
Hoje os ‘parots’ são chamados de ‘ninots’  que podem chegar a 30 metros e custar 400.000 euros . Geralmente são custeados pela associações de vizinhos e levam um ano inteiro para sua construção .
 
Los ninots permanecen en el lugar hasta el 19 de marzo, el día conocido como La Cremá. Empieza por la tarde cuando jóvenes con hachas hacen agujeros escondidos en las estatuas y las llenan de fuegos artificiales. La multitud empieza a corear, las luces de las calles se apagan y a los ninots se les prende fuego a las 12 en punto de la noche.
Cada año, uno de los ninots es salvado de la destrucción por el voto popular. Este se llama ninot indultat (ninot indultado) y es exhibido en el Museo del Ninot local con los favoritos de los años anteriores. ( extraído do site www.donquijote.org)
 
Em toda a semana das ‘fallas’ há várias atividades : corrida de touros, cavalgadas, desfiles, concursos de paella e as famosas ‘mascletás’ . É um espetáculo mais auditivo , quase como um concerto de cinco a sete minutos produzidos pelos ruídos e estouros das ‘bombinhas’. Durante os dias da ‘Cremá’ os petardos são estourados em todos os bairros e o mais famoso acontece às duas da tarde na ‘Plaza del Ayuntamiento’  que faz o solo tremer por uns dez minutos.
Durante as festas, o Conselho programa um castelo de fogos de artifício que se dispara, dependendo do dia, entre uma e uma e trinta da madrugada, na zona da Alameda, junto ao antigo leito do Rio Túria. O mais espetacular dos castelos é disparado na "noite do fogo" (nit del foc), entre os dias 18 e 19 de março, quando milhares de quilogramas de pólvora iluminam o céu da cidade, reunindo mais de um milhão de espectadores.
 

fallas_2013_3-300x300                                                                                                               ceballos-sanabria












quarta-feira, 5 de março de 2014

Um caso de amor : Carnaval & Brasil


Uma das mais antigas formas de Carnaval é o entrudo, cujo primeiro relato se deu em Pernambuco, em 1553. Trata-se de uma brincadeira de influência portuguesa, em que os foliões se sujam uns aos outros atirando polvilho, pó de sapato, farinha de trigo ou limões de cheiro (limões recheados de água e urina). Em 1854 o entrudo tinha de “ser seco para não estragar as roupas mais custosas e cuidadas dos nobres e não provocar desordens e confusão”. O entrudo a seco se transformou no Carnaval.

No final do século XIX, buscando adaptarem-se às tentativas de disciplinamento policial, foram criados os cordões e ranchos. Os primeiros incluíam a utilização da estética das procissões religiosas com manifestações populares, como a capoeira e os zé-pereiras, tocadores de grandes bumbos. 


Os ranchos eram cortejos praticados principalmente pelas pessoas de origem rural.

Baiana desfila nos anos 1960: ecos das origens (Marcel Gautherot/Acervo IMS)

O sapateiro português José Nogueira de Azevedo Prates, o Zé Pereira, saiu pelas ruas tocando bumbo em 1848. Pessoas foram se juntando a ele e deram origem aos blocos de rua. O desfile de blocos de rua durante o Carnaval carioca foi autorizado apenas em 1889.

O primeiro bloco organizado brasileiro foi o Congresso de Sumidades Carnavalescas, fundado pelo escritor José de Alencar em 1855. Nessa época, a folia era vinculada às elites. Os desfiles eram luxuosos, compostos por carros bem ornados, mulheres bonitas e grupos musicais estruturados.

No Brasil o início da festa é conhecido como “grito de carnaval”. Antigamente os clubes promoviam festas pré-carnavalescas com este nome. Nessas festas as pessoas iam fantasiadas e cantavam e dançavam ao som de marchinhas de Carnaval.
As marchinhas de carnaval surgiram no século XIX, cujo nome originário mais conhecido é o de Chiquinha Gonzaga, bem como sua música O Abre-alas.


Diferentemente do frevo e do samba – de caráter popular -, as marchinhas de carnaval surgiram como ritmo executado prioritariamente nos salões cariocas do final do século XIX. Elas tiveram sua ascensão ao mesmo tempo em que a classe média aumentou sua participação nos carnavais de rua.
Ao longo do século XX, o carnaval popularizou-se ainda mais no Brasil e conheceu uma diversidade de formas de realização, tanto entre a classe dominante como entre as classes populares. Por volta da década de 1910, os corsos surgiram, com os carros conversíveis da elite carioca desfilando pela Avenida Central, atual Avenida Rio Branco. Tal prática durou até por volta da década de 1930.

A marchinha Jardineira foi composta em 1938 e apareceu na comédia musical “Banana da Terra” (1939), que tinha no elenco Carmen Miranda, Oscarito e Emilinha Borba.  


As marchinhas conviveram em notoriedade com o samba a partir da década de 1930. Uma das mais famosas marchinhas foi Os cabelos da mulata, de Lamartine Babo e os Irmãos Valença. Essa década seria conhecida como a era das marchinhas.




A palavra samba foi utilizada pela primeira vez em 1838, pelo frei Miguel do Sacramento Lopes da Gama. O nome apareceu em uma quadrinha publicada na revista pernambucana “Carapuceiro”. Na ocasião, o termo foi usado para distinguir um dos tipos de música introduzidos pelos escravos africanos.
O nome do ritmo é de uma língua africana chamada banto, falada em Angola. Há duas versões para sua origem: ou ela deriva do termo samba (bater umbigo com umbigo), ou é uma junção de sam (pagar) e de ba (receber). Nas antigas rodas de escravos se praticava a umbigada, dança em que dois participantes davam bordoadas um no baixo-ventre do outro.

Foi na Rua Visconde de Itaúna, próximo a Praça Onze, que nasceu o samba. Uma roda de amigos improvisava versos na casa de uma das moradoras do morro, a tia Ciata (Hilária Batista de Almeida). Em 6 de agosto de 1916, o grupo criou a música O Roceiro, que caiu no gosto do povo. O samba somente surgiria por volta da década de 1910, com a música Pelo Telefone, de Donga e Mauro de Almeida, tornando-se ao longo do tempo o legítimo representante musical do carnaval.



Na década de 1920, o samba começou a se firmar no mercado cultural do Rio de Janeiro. Surgiam as primeiras indústrias nacionais de discos, e os bailes carnavalescos estavam em alta. Os compositores Sinhô e Caninha foram os primeiros a entrar na cena.
Entre as classes populares, surgiram as escolas de samba na década de 1920. As primeiras escolas teriam sido a Deixa Falar, que daria origem à escola Estácio de Sá, e a Vai como Pode, futura Portela. As escolas de samba eram o desenvolvimento dos cordões e ranchos. A primeira disputa entre as escolas ocorreu em 1929.
Em 1928, o compositor Ismael Silva reuniu os principais sambistas do bairro carioca do Estácio. Eles formavam uma roda de samba em frente à antiga Escola Normal. Por isso o nome “escola de samba”. Fundada oficialmente em 12 de agosto de 1928, ela foi batizada de “Deixa Falar”.

A “Deixa Falar” já apresentava o casal que empunhava a bandeira do grupo conhecido como pavilhão. O mestre-sala e a porta-bandeira são remanescentes dos antigos ranchos, grupos anteriores à escola de samba. 



Em 1930, surgem Noel Rosa e Ary Barroso, que levam o ritmo popular às classes médias. É também nessa época que são criadas variações do samba como samba-canção, samba-choro, samba de breque e samba-enredo.




A principal festa do carnaval fora de época brasileiro é a micareta,entretanto, não foi o Brasil que a inventou. A festa vem da França do século XV, onde era conhecida como “mi-carême” (“meio da quaresma”). O evento acontecia durante os 40 dias de penitência impostos pela Igreja Católica.
- A primeira micareta brasileira ocorreu no início do século XX, em Jacobina, interior da Bahia. O nome “micareta” surgiu em 1935, depois de um plebiscito feito pelo jornal “A Tarde”. Fora da Bahia, a primeira que se tem notícia é a Micarande, realizada em Campina Grande, na Paraíba, em 1989.

O abadá, roupa usada pelos micareteiros, tem sua origem na cultura afro-brasileira. Os abadás eram as vestimentas usadas nas celebrações do candomblé. [Mais tarde, o termo passou a designar a roupa dos capoeiristas.] Na Bahia, os primeiros afoxés surgiram na virada do século XIX para o XX, com o objetivo de relembrar as tradições culturais africanas. Os primeiros afoxés foram o Embaixada Africana e os Pândegos da África.

SECOM | Secretaria de Comunicação Social da Bahia

Por volta do mesmo período, o frevo passou a ser praticado no Recife, e o maracatu ganhou as ruas de Olinda.


  Folha Imagem & Pernambuco Cultural 2012                                                                             

Em 1950, na cidade de Salvador, o trio elétrico surgiu após Dodô e Osmar utilizarem um antigo caminhão para colocar em sua caçamba instrumentos musicais por eles tocados e amplificados por alto-falante, desfilando pelas ruas da cidade. Eles fizeram um enorme sucesso.
O trio elétrico conheceria transformação em 1979, quando Morais Moreira adicionou o batuque dos afoxés à composição. Novo sucesso foi dado aos trios elétricos, que passaram a ser adotados em várias partes do Brasil.





As escolas de samba e o carnaval carioca passaram a se tornar uma importante atividade comercial a partir da década de 1960. Empresários do jogo do bicho e de outras atividades empresariais legais começaram a investir na tradição cultural. A Prefeitura do Rio de Janeiro passou a colocar arquibancadas na avenida Rio Branco e a cobrar ingresso para ver o desfile.
Em 1984, foi criada no Rio de Janeiro a Passarela do Samba, ou Sambódromo, sob o mandato do ex-governador Leonel Brizola. Com um desenho arquitetônico realizado por Oscar Niemeyer, a edificação passou a ser um dos principais símbolos do carnaval brasileiro.

O carnaval, além de ser uma tradição cultural brasileira, passou a ser um lucrativo negócio do ramo turístico e do entretenimento. Milhões de turistas dirigem-se ao país na época de realização dessa festa, e bilhões de reais são movimentados na produção e consumo dessa mercadoria cultural.